- por Karol Felicio
Abri minhas portas para Cecília Meirelles e abriguei-a sobre minha cabeceira. Só então consegui enxergar a minha horta, murcha, e perceber que o impulso cego de regá-las diariamente e a todo instante já não lhe devolveriam à vida.
As minhas folhas, há tempos definhando, semimortas, secas, tortas. Minha raiz de tanta água , apodrecera. O sol queimava forte. Tudo era demais para mim. Era muita água e pouco nutriente. Era muito pouco consistente.
Dos meus olhos um filete de água queria sair e as comportas que eu construí já não poderiam suportar. Sabia-me que um rio estava por vir.
Meus pés sobre as folhas secas caminhavam a divertirem-se com os barulhos, rindo da própria desgraça, em círculos.
Nos meus cabelos verdes, pragas. E eu, sem dó, me despetalava. Sangrava pelos meus próprios espinhos, com as raízes fincadas num vaso, apertado, muito prestes a ruir.
30 de abr. de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Coisa mais linda esse texto! Logo mais o verão está de volta!!!
Que coisa mais sincera. Fiquei encantada e horrorizada, como a maioria dos bons textos sempre fazem.
Como bem lembrou a Linda Prussia a primavera vai te fazer melhor... sempre faz!
Lindo texto Amiga, me senti verdadeiramente uma planta num vaso...apertado
Suas lindas! Todas :)
Pru e Monix, sempre atraindo o que é bom para os seus, mas desvencilhando-se da amizade entranhada que temos para criticar o texto enquanto texto, em si. Obrigada!
Insolente - que não é – Obrigada pela visita e pelo comentário. Os textos sinceros às vezes demoram mais a serem mostrados. “Encanto e Horror”, também sinto com alguns textos, se despertou isso já valeu tê-lo escrito.
Três beijos!
Que sentimento!!!
Um jardim nunca se perde para sempre...Ele é de ciclos, pra reconstruir.
Sempre né Cel... às vezes se reconstrói de sua própria decomposição.
Postar um comentário