15 de mai. de 2008

Uma presa, uma caça

- por Karol Felicio

E me caça esse olho de águia
Sem pudor, sem freios, sem fala
Com a força que vem e me cala
Há quilômetros, por instinto, veloz

E me larga indefesa, estática
Acuada, imóvel, amarrada
À espreita, um bicho, uma tara
Uma presa, frente-a-frente, o algoz

E te espero, sem resistência
E me exponho como banquete
E me entrego ao seu deleite
Te recebo, um animal

Fareja, envolve, invade
As gotas de suor que calham
Derretem meu rosto que arde
Minha boca concede e se abre

E só me despregue esses olhos
- nervosos de águia –
No buraco do tempo em que a música acaba
Na cera que derrete da vela que apaga
E a brasa queimada no canto da sala
Refaz o cenário da noite que cai

De um suspiro esgotado
Um corpo enxarcado
Um calor esganado
E minh’alma que vai

1 de mai. de 2008

Anjo

- por Karol Felicio

E reclusa à minha concha
Abriu-se um feixe de luz
E raiou o dia


Encontrei-me nos braços do aconchego

Enquanto meus olhos, ainda cegos, viram surgir o sorriso inesperado
Aquele sorriso, aquele olhar, aquele colo
Aquele cuidar. Sim! Aquele cuidar

Me resgataram do fundo
E me trouxeram um espelho inteiro
Não mais pedaços, não mais consertos

E eu me vi! Há quanto tempo sentia falta, há quanto tempo me procurei!

E ali, de volta ao que sou, a noite resgatou o sol
Ali, de volta ao início, meu anjo me resgatou de mim

E eu me vi!

Era um edredom aquecido numa noite fria

Mesmo que DEVA ser um sonho
Meu anjo... sempre será.